TIRANDO O DE SEMPRE, O QUE MAIS O ENEM ENSINOU À PERIFERIA?

A última etapa do Exame Nacional do Enisno Médio - Enem 2020, aconteceu no último domingo, 24 de janeiro de 2021. E como de costume, o concurso mais uma vez nos mostrou como funciona a peneira do acesso ao ensino superior no país. Uma peneira que barra as pedras que o sistema não quer utilizar e as pedras que a escola não conseguiu lapidar. Nessa peneira só passa pedra lapidada de acordo com as ocasionais exigências de reprodução da vida social capitalista.

Convenhamos, nenhum abastado/a necessita de Enem como alternativa de sobrevivência e, caso precise, pode tentar a prova por cinco anos consecutivos, não se atrasa por causa de transporte e, geralmente, se dá bem. Isso, por ter um suporte extraordinariamente superior ao que se tem nas periferias. Filho e filha de burguês tem aula particular de reforço com mestres e doutores após a escola. É mole?

Quando o ministro da educação e o presidente do INEP comemoram dizendo que o Enem foi um sucesso, mesmo com um índice de abstenção superior a 51%, eles não estão mentindo. A maioria esmagadora das abstenções é de gente pobre de periferia cuja família vive pelo trabalho e que luta para garantir a educação dos filhos, quase como uma salvação da geração. E se prejudicou bastantante, também, aquela classe média emergente, que comprou carro sem IPI, casa financiada pela Caixa, que vai à praia nas férias; que trampa 10 horas por dia e deixa grande parte dos rendimentos nas dívidas; que dedende interesses do patrão; que inferioriza o mais pobre para se sentir superior; que após conquistar alguns bens de consumo acha que é "elite intelectual", mas que na realidade basta uma demissão entre um dos membros da família para tudo desmoronar. Estes também se dão mal, pois irão trabalhar na empresa daqueles que mandam seus filhos e filhas para universidades no exterior. A classe média só fingem não perceber sua exploração para manter um emprego, uma pequena distância das zonas de guerra e a superioridade ilusória que lhe distingue do estereótipo da pobreza. 

Se entendemos o que é a necropolítica, realmente o Enem foi um sucesso. Pois a elite e seus herdeiros/as continuam avançando em seus projetos de vida, seja dentro ou fora de uma universidade, no Brasil ou no exterior. Não importa se os próprios alunos e alunas pobres estejam alegando que foram impedidos de entrar nas salas lotadas, ou que tiveram que escolher entre deixar fazer a prova ou arriscar a vida de familiares do grupo de risco. O que importa para os governantes fantoches da elite finceira é que estamos estagnados, e que assim somos forçados a trabalhar, afinal, "a economia não pode parar", assim eles nos dizem. 

Se quem mais morre no Brasil por Covid-19 são negros/as e pobres, uma sala de aula sem estrutura alguma lotada de estudantes fazendo Enem, é como uma câmara de gás para o nosso morticínio. É uma tecnologia de matar pobre sem ter que pagar o preço que a história cobra.

O Enem não é impactante para a juventude abastada, mas ele determina quais pobres poderão tentar ter uma chance no mercado de trabalho onde pedras não lapidadas se chocam, se quebram, viram pó ou e se lapidam mutuamente em cursinhos comunitários e escolas públicas. Então, assim como a pandemia nos escancarou o fracasso do capitalismo neoliberal através da insuficiência das podrea políticas de saúde no mundo inteiro, o Enem nos escancara a precariedade da educação brasileira e a quem ela de fato serve.

Que os mais pobres são os maiores prejudicados já não é novidade, esse ano isso apenas ficou ainda mais evidente. Mas o Enem 2020 também trouxe outra discussão importantíssima, que, novamente, afeta toda a periferia, contudo de modo mais sutil: as ciladas do tema da redação.

Diante disso, questiona-se: tirando o de sempre, qual outra lição o Enem 2020 deixa para a periferia?

E foi para refletirmos sobre essa questão, a partir de olhares de periféricos, que surgiu esta iniciativa que juntou o blog Hip Hop Sem Maquiagem e o canal Psicologia Rap.

Marcelo Henrique, vulgo Tchelo, é rapper, psicólogo e idealizador do canal Psicologia Rap. Em seu canal ele busca fazer um diálogo entre saberes da Psicologia e do Rap através de "react" de videoclipes de Rap. O canal possui mais de 25 mil inscritos e, em seBus reacts, Tchelo busca sempre levar outras pessoas para que possam analisar os as letras e vídeos conjuntamente. Essa troca de conhecimentos, opiniões e leitura de mundo trazem a seriedade necessária para que sua atividade não seja meramente entretenimento, mas que também possa servir de aprendizado para seguidores online e amigos pessoais.

Convidados por Tchelo para comentar sobre o que o Enem 2020 deixou de lição para a periferia, o professor de história e editor do blog, Allisson Tiago e o psicólogo e colunista, Thiago Augusto, aceitaram o convite e o resultado dessa discussão você confere logo abaixo.

A ideia passa pelas complicações do uso de termos como "Estigma" e "Doença Mental" e como eles possuem um viés orientado para uma lógica manicomial. O vídeo ainda aborda o que está por trás da escolha do tema da redação como isso se relaciona com o governo e com o neoliberalismo. Por fim, é possível compreendermos como todo esse debate impacta direta e indireramente as periferias.

Confira:




Nós do blog Hip Hop Sem Maquiagem e do canal Psicologia Rap, esperamos que as observações aqui presentes possam, de algum maneira, contribuir para a luta individual e coletiva das pessoas e da periferia.

[O pequeno projeto contou com a participação ativa de todos envolvidos.]

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