"TIO" BAUMAN E A LIQUIDEZ NO RAP

No último dia 09 de janeiro, morreu aos 91 anos o sociólogo Zygmunt Bauman, famoso por conseguir fazer leituras críticas da sociedade atual e das redes  sociais.

Bauman  tinha como mote principal a "modernidade líquida", expressão usada para expor como a sociedade agia em decorrência do consumo exacerbado e da sua  imedíatez. O conceito de satisfação tinha um prazo definido para acabar. Nada do que é comprado e consumido é feito para dar uma feliz e perene sensação de bem estar. Portanto, ao adquirir algum bem, seja ele material ou psicológico, em pouco tempo deve ser substituído, para uma nova sensação de aquisição. Caso contrário, não estará cumprindo com o seu papel.

Certamente Zigmunt pouco conhecia do Hip Hop em geral, e menos ainda se tratando do Rap nacional brasileiro. Mas isso não impede que façamos uma conexão com seus pensamentos. Em tempos de músicas frívolas e instantâneas que aparecem a cada dia nas redes sociais e players. Que despertam mais interesse pelas seus conteúdos provocativos e polêmicos, muitas vezes "medievais", do que pela lirica e mensagem positiva. Conseguimos ver claramente que a análise sociológica "liquida" nos atingiu também. Afinal, é quase impossível conseguir estar à par de todos os hits e lançamentos musicais que tangem à nossa cultura. Muito diferente do que já foi um dia.


Talvez o olhar nostálgico aos anos 90, traga uma ideia romanceada de músicas clássicas que atravessaram a barreira do tempo, e fazem sentido até os dias atuais. Sons que perpassavam anos e continuavam a habitar os ouvidos dos amantes do Rap nacional. Claramente as dificuldades de se produzir e lançar uma música, fazia com que os fãs não exigissem singles à torto e a direita. Todavia, é irrefutável que aquela época foi sim, datada de grupos e músicas que conseguiram realizar produções que sobreviveram a ação do tempo. E são verdadeiros hinos do Rap nacional.

Hoje lamentavelmente, a facilidade de se produzir beats e gravações, também trouxe com ela, uma amálgama de discursos despolitizados e sem conteúdo, e não estamos falando só do Rap de protesto. Até para falar sobre relacionamentos amorosos ou festas, é necessário rebaixar o papel da mulher ou ofender as individualidades alheias. Bebidas, drogas, sexo, e outros prazeres, em nome do "Som do momento". Tudo para estar em movimento, e não ser ultrapassado em número de views pela próxima novidade.   

Isso não quer dizer em hipótese alguma, que a nova geração de rappers é banalizada e condenada a criar músicas pasteurizadas e efêmeras. Muito pelo contrário, temos uma infinidade de irmãos e irmãs fazendo e acontecendo no Hip Hop. E em alguns anos teremos novos clássicos para ouvir e também sentir a nostalgia de outrora.

Contudo, Bauman foi assertivo na sua leitura, se tratando até do mundo do Hip Hop.

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